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imagens: TAYGOARA AGUIAR, GABRIELLA CORREIA e LUIS CARNEIRO LEÂO | edição: TAYGOARA AGUIAR | som direto: TAYGOARA AGUIAR | lettering: TAYGOARA AGUIAR | performers: ALEX SIMÕES, LAURA CASTRO, LEONARDO FRANÇA e RAIÇA BOMFIM
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MATERIAL DE DIVULGAÇÃO (FOTOGRAFIA: CAROLINA ALBUQUERQUE )
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TEXTO NA ÍNTEGRA
Venho aqui apresentar um pequeno panorama sobre a minha tese de doutorado, intitulada Encruzilhadas: design e poéticas do livro de artista em salvador. Esta pesquisa pretende discutir a importância da poética na formação do designer. Eu parto da tentativa de compreender como a investigação acerca da conduta criadora individual pode contribuir com a construção de um repertório técnico, teórico, estético e, principalmente, ético na formação acadêmica dos profissionais de Design.
Para tanto, busquei me perder nos caminhos da produção de livros de artista em Salvador, principal campo de atuação experimental desta pesquisa. O cenário soteropolitano do livro de artista contemporâneo é fruto de uma série de diálogos que desencadearam processos de produção colaborativos. Tais processos, possibilitaram que artistas se aproximassem do pensamento projetual do design, ao mesmo tempo que os designers interessavam-se em investigar os elementos de suas próprias condutas criadoras, ou seja, suas poéticas individuais.
Este tipo de investigação  poética, observada nos designers de livro de artista do cenário soteropolitano de publicações experimentais, é desestimulada pelas  práticas pedagógicas adotadas nas matrizes curriculares, dos principais cursos universitários de Design do Brasil, que por sua vez, em sua grande maioria, priorizam a especialização, em detrimento de uma visão projetual mais holística.
Quando se trata da formação de designers, a especialização crescente gera uma grande lacuna no que tange o autoconhecimento e a compreensão clara do papel deste profissional no processo de produção como um todo. De fato, salvo raras exceções, as principais escolas do pensamento projetual do Design ignoraram um fator crucial para a realização do projeto: a pessoa designer e sua poética, ou seja, o autor ou autora da criação e os elementos de sua conduta criadora.
Mas como isso se reflete na formação deste profissional?
Entendo que ao abrir mão de investigar profundamente os seus gostos, seus temas prediletos e os meios físicos que prefere utilizar ao criar suas obras, o designer, a priori, se coloca como um ser invisível, que apesar de ser um agente de transformação e informação da materialidade, não se compromete com o resultado do seu trabalho. Se coloca apenas como mediador do desejo de outrem, ou como solucionador de problemas relacionados à linha de produção industrial. Este tipo de pensamento ocidental, pressupõe a existência de um caminho único para a prática projetual do designer. Um caminho que ignora o individuo agente da conduta criadora, e as complexidades das relações humanas em sociedade.
Neste sentido, invoco nesta pesquisa a palavra encruzilhada como um conceito operatório que me permite abrir trilhas no meio desses caminhos únicos da pratica projetual racional funcionalista. Encruzilhadas são cruzamentos entre caminhos. Locais de confluência e coexistência de diferentes rumos, pensamentos e visões de mundo. Se nos orientarmos por cosmovisões afro-brasileiras, a encruzilhada diferencia-se da compreensão ocidental do termo – para a qual um caminho é eleito em detrimento de outros – e apresenta-se como espaços plurais, nos quais a noção de múltiplos caminhos podem ser compreendidas como possibilidades ao invés de certezas (RODRIGUES JR, 2018).
Em um mundo no qual [...] as relações interpessoais se processam cada vez mais pelo crivo do consumismo e no qual, portanto, as possibilidades de qualquer espécie de transcendência tendem a se limitar ao valor simbólico da mercadoria, o designer tem um papel cada vez mais importante a exercer. Se for a favor do status quo, cabe-lhe rechear os seus projetos de significados que reforcem, pela continuidade, a tese de que seja este o melhor dos mundos. Se for contra, cabe combater as tendências presentes pela atribuição consciente de significados subversivos ou contestadores. [Contudo,] independentemente de qualquer inclinação ideológica, quero sugerir que o único papel que o designer não pode se dar ao luxo de exercer é o da omissão e da indiferença (CARDOSO, 1998, p.38).
Neste mundo fortemente influenciado pela subjetividade capitalística, no qual as visões de mundo são homogeneizadas como forma de orientar o consumo, os designers devem construir as suas próprias veredas, a partir das experiências resultantes da convergência dos diferentes caminhos. Contudo, como afirma Passeron (1997), a obra poética compromete seu autor desde o começo da execução, tanto no sucesso social quanto na recusa e na censura.  Portanto o designer que optar pelo caminho da poética projetual, precisa estar ciente que ao agarrar a liberdade de viver seus processos de forma autônoma, já não mais poderá lançar mão da omissão e da indiferença em relação ao fruto do seu trabalho criativo.
Nas encruzilhadas surgem poéticas! No entanto, paradoxalmente, a mesma poética que abre caminhos, envolve e compromete a pessoa que cria, pois a liberdade que acompanha a autonomia traz consigo, também, a responsabilidade por aquilo que é criado.

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